Essa pergunta me fez relembrar as inúmeras visitas que pude receber em minha casa. Não se tratava de familiares, muito pelo contrário. Era um estranho. Ainda guardo na memória a imagem de um homem, bem vestido e articulado que procurava nos vender livros com sua impecável habilidade persuasiva. Um livro enorme, pesado e que compunha alguns volumes. Imprescindível para um bom rendimento escolar, afirmava. E foi assim que cresci. Naquelas coleções de livros bonitos, passava horas e horas pesquisando os mais variados temas exigidos nos trabalhos escolares.
Curiosamente, meu primeiro emprego foi como digitadora, Ao transportar documentos bancários para arquivos de computadores não tinha a consciência do que se passava, Hoje, no entanto, reconheço que era o início de uma nova era. A revolucionante era do computador,
A medida em que fui crescendo, percebi que as visitas tornavam-se cada vez mais esporádicas. E confesso: até hoje ninguém nunca bateu em minha porta me oferecendo Enciclopédias sustentado no argumento de que estou investindo no futuro das minhas filhas.
As nossas crianças, digo como mãe e professora, já não mais vão a bibliotecas da escola ou consultam as Enciclopédias que decoram os móveis da sala de estar para realizar trabalhos escolares. E mais, com um simples clic a professora de História pode visitar o Museu do Louvre com seus alunos. A de Geografia saltar da Europa para a Asia em questão de segundos, o de matemática resolver qualquer problema com a simples ajuda de um intruso, digo, computador.
Alguns chamam de tecnologia, outros de ameaça. Muitos, porém, se esquecem que por trás das telas dos computadores não existem cliques, nem cabos e tão pouco botões, mas sim cérebros e sentimentos de humanidade, com todos seus defeitos e virtudes. E como sabemos, a virtude dos professores sempre foi a capacidade de transmitir conhecimentos e ditar confiança aos alunos, algo que nenhum computador consegue fazer.
O computador é um mero instrumento facilitador. Simplificou a comunicação e deu vida a globalização. Entretanto, ainda que uma máquina possa repassar conhecimentos, jamais poderá transmitir confiança, visto que a confiança é uma avaliação propriamente humana. E este é o principal motivo da sua incapacidade para substituir um mestre.
O ensino é um processo humano que aprimora as relações entre os indivíduos. Muito além do que os conteúdos estão as atitudes, as reações, o calor. E essa coisa tão estranha de definir, chamada humanidade, é importantíssima tanto para o que aprende como para aqueles que no futuro participarão da convivência do ensinado. Não queremos que nossos alunos sejam bons em humanas ou exatas, mas que se constituam como sujeitos, críticos, pensadores e, sobre tudo, humanos. E tudo isso não se transmite através de telas de computadores, mas sim por convivência, por trocas, por palavras, gestos e atitudes que nos faz querer ser uma pessoa cada vez melhor.
Patrícia Brasil
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